sexta-feira, 16 de maio de 2025

A Cortina de Fumaça do "Crescimento": Desigualdade e Resistência em Tempos de Incógnitas

 



A conjuntura econômica brasileira, nesta semana, apresenta-se como um palco de contradições, onde a narrativa do "crescimento" tenta obscurecer as sombras persistentes da desigualdade. Os indicadores, embora apontem para um tímido avanço, revelam a fragilidade de um modelo que perpetua a concentração de renda e a exclusão social. Nesse cenário, o governo Lula, em um esforço hercúleo, busca reverter os danos causados por anos de políticas neoliberais e ataques sistemáticos aos direitos dos trabalhadores e das camadas mais vulneráveis da população.

Os "destaques" da semana, alardeados por alguns setores da mídia, incluem um leve arrefecimento da inflação, com o IPCA de abril registrando 0,38%, conforme noticiado pelo Valor Econômico (15/05/2025). Paralelamente, o Estadão (14/05/2025) celebrou o crescimento de 0,2% do PIB no primeiro trimestre deste ano. No entanto, essa leitura superficial ignora a profundidade das cicatrizes deixadas por um período de desmonte do Estado e de priorização de um mercado selvagem. Os dados do IBGE (PNAD Contínua, abril/2025) insistem em mostrar uma taxa de desocupação de 7,9%, um contingente enorme de brasileiros ainda à margem do mercado de trabalho formal. E o índice de Gini, teimosamente elevado, escancara que a pequena parcela de crescimento não chega à maioria da população.

Essa miragem de recuperação econômica, insuflada por uma imprensa que muitas vezes ecoa os interesses do capital, negligencia o fato de que o Brasil ainda patina em um modelo primário-exportador, vulnerável às oscilações globais e distante de uma industrialização que gere empregos de qualidade e renda para todos. Essa é a lógica perversa de um capitalismo que prioriza o lucro a curto prazo em detrimento do desenvolvimento social e ambiental sustentável.

Não bastasse o legado de um capitalismo excludente, o país ainda sente os efeitos nocivos da passagem da extrema direita pelo poder. O desmantelamento de políticas públicas nas áreas da saúde, educação e assistência social, a precarização das relações de trabalho e o ataque aos direitos humanos legaram um rastro de sofrimento e aprofundaram as desigualdades. Como bem apontou uma reportagem recente da Folha de S.Paulo (12/05/2025) sobre o aumento da insegurança alimentar nas periferias, os mais pobres foram os mais afetados pelas políticas de austeridade cega e pelo negacionismo social da gestão anterior.

Diante desse quadro sombrio, o governo Lula tem empreendido esforços significativos para reverter essa trajetória. O relançamento de programas sociais como o Bolsa Família, com condicionalidades importantes para a saúde e a educação, o aumento do salário mínimo e as iniciativas para fortalecer a agricultura familiar e a economia popular solidária são passos importantes nessa direção. O próprio presidente Lula tem reiterado em seus discursos, como noticiou a CNN Brasil (16/05/2025) em sua cobertura sobre os encontros com centrais sindicais, o compromisso de reconstruir um Brasil com mais oportunidades e justiça social para os trabalhadores.

Contudo, a tarefa é árdua e enfrenta resistências. A herança de um projeto de dominação imperialista, que historicamente nos relegou ao papel de fornecedores de matérias-primas e mercado consumidor, ainda se faz sentir nas pressões por reformas que atendem mais aos interesses do capital estrangeiro do que às necessidades da população brasileira. A luta por uma soberania econômica real e por um projeto de desenvolvimento autônomo é, portanto, central.

A análise da conjuntura nos exige um olhar crítico e atento. Não podemos nos contentar com a maquiagem dos números que tentam esconder a persistência da desigualdade e os desafios colossais para a reconstrução de um país mais justo. O esforço do governo Lula em resgatar os excluídos e em pavimentar um caminho de desenvolvimento mais equitativo merece reconhecimento, mas a vigilância e a pressão social são imprescindíveis para que as mudanças sejam profundas e duradouras.

Referências:

O ESTADO DE S. PAULO. PIB cresce 0,2% no 1º trimestre, aponta IBGE. São Paulo, 14 de maio de 2025. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,pib-cresce-0-2-no-1-trimestre-aponta-ibge,70004143878. Acesso em: 16 de maio de 2025.

VALOR ECONÔMICO. IPCA desacelera para 0,38% em abril, menor taxa para o mês desde 2020. São Paulo, 15 de maio de 2025. Disponível em: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2025/05/15/ipca-desacelera-para-038percent-em-abril-menor-taxa-para-o-mes-desde-2020.ghtml. Acesso em: 16 de maio de 2025.